Estamos prontos para entrar na Rocinha a qualquer momento', diz Beltrame.


Chefe do Tráfico na Rocinha era procurado pela Polícia.


A polícia do Rio está pronta para ocupar a comunidade da Rocinha "a qualquer momento", mas ainda precisa "esperar mais alguns resultados" antes de dar início à operação, disse à BBC Brasil nesta quinta-feira o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame.

Falando por telefone da Alemanha, onde se encontra em viagem, o secretário afirmou que a operação que resultou na prisão do chefe do tráfico na Rocinha, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, vai resultar em informações com as quais a polícia ainda precisa trabalhar antes de subir o morro.

"Ainda temos de esperar. Não concluímos efetivamente tudo o que queremos", disse Beltrame. "Ainda temos a polícia nas ruas, em outras áreas, e nós temos que aguardar o reflexo disso em outros locais, dentro da própria Rocinha, e a movimentação da facção."

A prisão de Nem reforçou a expectativa de que a operação siga adiante e seja realizada nos próximos dias. Nesta quinta-feira, o governador do Rio, Sérgio Cabral, indicou em uma entrevista à TV Globo que a ocupação seria "concluída até o final da semana".

Sobre uma possível reorganização do tráfico, o secretário José Mariano Beltrame disse que esta é uma "possibilidade que pode acontecer". "Agora, na Rocinha, vai ser difícil, porque nós vamos ter polícia 24 horas por dia lá."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil - A operação na Rocinha teve um grande avanço com a prisão do Nem. Como o senhor vê os próximos passos dela?
Beltrame
- A operação não acabou. Ela vai culminar com a ocupação da Rocinha, e são as informações recolhidas ao longo dela que vão nos permitir isso. Mas nós ainda temos de esperar. Nós estamos prontos, desde o início da semana, para entrar lá a qualquer momento, mas acho que vai levar ainda alguns dias para que a gente conclua esses trabalhos.

BBC Brasil - O que estão esperando?
Beltrame
- Esse trabalho pode nos trazer mais alguns resultados. Ainda temos a polícia nas ruas, em outras áreas, e é um momento que nós temos, no mínimo, que aguardar o reflexo disso (a prisão de Nem) em outros locais, dentro da própria Rocinha, e a movimentação da facção.

BBC Brasil - A ocupação dos morros pela polícia tem o efeito de desmantelar o esquema do tráfico. Mas a demanda pela droga continua a mesma. O senhor vê a possibilidade de o tráfico se reorganizar? Nesse caso, a estratégia da polícia muda na guerra contra o tráfico?
Beltrame
- A droga, no mundo inteiro, vai existir onde existir vício, onde existir demanda. Isso transcende a polícia. O que nós temos que ter é estratégias de ocupação para garantir o direito de ir e vir das pessoas, e a prestação dos serviços, públicos e privados. Para isso, nós precisamos que a polícia esteja permanentemente nestes locais, nestas ilhas, nestes impérios que nunca foram atacados.

A prisão dos traficantes, das drogas, de armas e munição é muito importante, mas mais importante é terminar com impérios e territórios. A prisão do Nem é uma quebra de paradigma: eles se dizem fortes dentro do território deles, mas na hora que você bate nisso, eles ficam vulneráveis, frágeis.

BBC Brasil - Mas o senhor vê a possibilidade de o tráfico se reorganizar?
Beltrame
- Acho que se isso acontecer, poderá acontecer fora da Rocinha. Nós não podemos ser cobrados para fazer com que as pessoas desistam de vender drogas. A questão de o tráfico se rearranjar em outro lugar, ou outra cidade, isso tudo é uma possibilidade que existe em qualquer lugar do mundo. Agora, na Rocinha, vai ser difícil, porque nós vamos ter policiais 24 horas por dia lá dentro. Na Rocinha, existia um regime tirano, um feudo do tráfico, isso não vai mais existir.

BBC Brasil - Ao mesmo tempo que a polícia pode exibir um "troféu" como esse, da captura do Nem, há um deputado, Marcelo Freixo, que teve de deixar o país por conta de ameaças das milícias. O cobertor é curto para combater as milícias e o tráfico?
Beltrame
- Nós temos de atender a um leque de problemas, mas temos de ter grupos que atendam especificamente ao problema das milícias. O tráfico e as milícias são crimes que se compõem de formas diferentes e cada um exige uma expertise diferente da polícia.

Nós temos trabalhos claros e transparentes em relação às milícias, que estão aí para serem avaliados. Se você pegar o antes e o depois, vai ver que há uma reação às milícias dentro da estratégia de segurança do Estado. Agora, nós não temos a velocidade da urgência que tem a população. É um trabalho difícil, que requer estudo, que requer provas.

BBC Brasil - Qual o significado da prisão do Nem para o Rio?
Beltrame
- O mais importante é que o Rio de Janeiro hoje tem um conceito de segurança, um conceito para trabalhar com áreas conflagradas, com processos de pacificação, para diminuir permanentemente a criminalidade.

Hoje existe uma filosofia de um trabalho combinado entre várias instituições em prol da diminuição dos índices de violência e criminalidade. Isso se dá através da troca de informações, da utilização de canais competentes de inteligência policial e, sem nenhum tipo de vaidade, uma troca informações e operações conjuntas entre todas as forças policiais. Eu digo que não é uma luta da polícia contra o tráfico, é do bem contra o mal.

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